sábado, 15 de agosto de 2009

A arte de sobreviver das ruas




Por Emerson Rocha



“Olha a fruta, freguesa! Relógio na minha mão é 10 reais; eu tenho DVD de cinco; olha o picolé...”. É, desta forma, vendendo mercadorias que muitos trabalhadores na cidade de Juazeiro, no norte da Bahia, garantem o seu sustento. Eles fazem parte do mercado de trabalhadores informais e vivem da loteria do comércio: um dia está a favor, no outro contra.



Pelas estreitas ruas do município, pode-se ver pessoas vendendo de tudo: roupas, comida, relógios, cafezinho e utensílios domésticos. Elas expõem suas mercadorias e tentam seduzir o cliente da melhor maneira possível. No grande shopping a céu aberto da cidade, há diferentes produtos e várias histórias de cidadãos que sobrevivem do comércio informal.


Uma dessas histórias é a de Silvana Tereza Conceição de 28 anos de idade. Com jeito simples e voz mansa, a moça trabalha como camelô desde os 14 anos. Ela nunca teve um emprego de carteira assinada, e tira o seu sustento e dos três filhos da venda de frutas e verduras em frente ao terminal de transbordo da cidade.


O dia de Silvana começa bem cedo. Para conseguir as melhores frutas, ela sai de casa, no bairro Piranga I, antes das cinco horas da manhã, indo em direção ao Mercado do Produtor. Com o carrinho abastecido, segue do mercado para mais um dia de trabalho.


Mãe de três filhos, recebe o Bolsa Família, mas explica que o auxílio do Governo Federal é insuficiente. “Pra sustentar a família de Bolsa Família não dá. Pagar água, luz, bojão... e aí? Nosso único meio de vida é esse, comprar e vender”, afirma, que acrescenta que já perdeu suas mercadorias por várias vezes.


A vida de um ambulante é inconstante, quando saem de suas casas levam consigo a esperança de uma boa vendagem e o desejo de um dia proveitoso. Esses profissionais das ruas transformam-se em artistas que interpretam cenas da vida real.


Trabalhando nas ruas há vários anos, José Aílton de Souza, 52 anos, compara a sua vendagem de relógios a uma pescaria: “Um dia pode pescar bem, e no outro menos”, explicou seu Aílton, como gosta de ser chamado.


APOSENTADORIA

A incerteza de vendas não é o único problema enfrentado por esses trabalhadores. Outra dúvida constante sobre suas vidas é em relação à aposentadoria. Muitas dessas pessoas desconhecem os caminhos para requerer o benefício como trabalhador autônomo.


O Governo Federal lançou o Programa de Microempreendedor Individual (MEI), que começou a vigorar a partir do mês de julho. O objetivo é fazer com que trabalhadores autônomos formalizem o seu trabalho e passem a ter direitos como aposentadoria por invalidez ou idade, licença maternidade, auxílio-doença e outros benefícios da Previdência Social.


Para tanto, pessoas como Silvana e Aílton deverão pagar mensalmente R$ 52, 15, sendo R$ 1 de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e R$ 51,15 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O Ministério da Previdência Social garante que a aposentadoria será de um salário mínimo, para mulheres de 60 e homens de 65 anos, que contribuírem com o programa. Porém, os preços cobrados afastam alguns trabalhadores.


Aílton afirma que a cobrança feita pelo Governo é muito alta, o que dificulta a aposentadoria dos autônomos. “A margem que é oferecida à pessoa que trabalha no serviço informal pra pagar ao INSS, é muito alta. Às vezes, a gente falta pra pagar”. Ailtom revelou que consegue em média um salário mínimo por mês com o seu trabalho, o que dificulta o pagamento do tributo.


Terezinha Silva, 58 anos e há oito trabalhando como camelô, disse ter trabalhado de carteira assinada apenas um ano, tendo contribuído com a Previdência Social somente nesse período. Ela fala que não paga por acreditar que não vale mais a pena: “o preço é muito alto, e eu já estou com 58 anos, não vai mais valer”, explica a comerciante.

O ALTO NÚMERO DE AMBULANTES NA CIDADE


Camelódromo Dois de Julho, criado como alternativa para diminuir o número de ambulantes nas ruas de Juazeiro

A cidade de Juazeiro estar repleta de ambulantes. Uma das mediadas adotadas para diminuir o número de ambulantes nas ruas da cidade é o Camelódromo Dois Julho, inaugurado há oito anos, com a finalidade de abrigar os ambulantes retirados das ruas. Terezinha é uma dessas pessoas, ela trabalhava na Rua Oscar Ribeiro e foi transferida para o novo ponto.


A estudante, Gabriela Canário, 22 anos, reclama do alto número de vendedores ambulantes na rua. “Ali na Rua dos bancos é horrível. Eles já tomam a frente das calçadas. O grande número de ambulantes além de dificultar a passagem dos carros, também dificulta a visão dos pedestres, causando acidentes”, afirma a jovem que apesar dos transtornos gosta de comprar na mão de camelôs.


“Eu costumo e até prefiro comprar na mão de camelô, por causa da variedade que você encontra e pelo preço muito mais acessível. Claro que a qualidade não é a mesma, mas vale a pena”, ressaltou Gabriela.


A comerciante revela que, embora ganhasse mais com a sua barraca na rua, ela não abre mão do seu ponto no novo estabelecimento. “Na rua, eu gostava porque a gente vendia mais. Mas aqui eu gosto porque é um local que a gente fica na sombra, não pega sol, não pega peso”, observa a comerciante.

Fora do camelódromo, os ambulantes têm que pagar um lugar para guardar os seus produtos. “Lá a gente pagava uma taxa por mês pra guardar nossas mercadorias, aqui não. Se fosse pra ir pra rua eu não queria. Mesmo ganhando ais, não quero ir pra rua”, disse Terezinha.


Tanto na rua ou dentro do camelódromo, a vida de Silvana, Aílton e Terezinha unem-se nas mesmas lutas, conquistas e aflições: a incerteza de vender ou não; o risco de ter suas mercadorias apreendidas; o caos da violência urbana entre outros.


Mas, apesar das adversidades, eles sentem orgulho do seu trabalho e da cidade que os acolheu. “Trabalho aqui há muitos anos, praticamente eu sou um juazeirense nato. Sou filho de Juazeiro, me adeqüei aqui. Eu amo a minha cidade”, concluiu Airton.

Um comentário:

Alice Brasil disse...

Ei, Emerson qt tempo? Tem um presente pra vc no meu blog.

Beijos!!

Meg Macedo.